Muitas são as dificuldades que as pessoas com deficiência auditiva enfrentam, actualmente, nos hospitais e centros de saúde. Apesar das evoluções tecnológicas, a diferença ainda se destaca e muitos obstáculos têm de ser ultrapassados.
Existem vários tipos de surdez, entre elas a profunda e a parcial. Um Surdo profundo não ouve qualquer tipo de som, por isso, tem uma maior dificuldade em oralizar, ao contrário de um Surdo parcial, que por ter capacidade em ouvir alguns sons, normalmente percebe e é percebido.
Consequentemente, um Surdo profundo raramente vai a serviços hospitalares sozinho. Pois, ao não conseguir emitir sons, não consegue fazer-se perceber, tendo, assim, a necessidade de estar sempre acompanhado. São, então, as pessoas que o acompanham que se dirigem à recepção e que falam com os profissionais de saúde, transmitindo a informação ao Surdo através dos seus próprios códigos, ou se o mesmo souber, através da Língua Gestual Portuguesa.
José Luís, Surdo Profundo e Liliana Almeida, Surda Parcial, confidenciam que as dificuldades sentidas no Sistema Nacional de Saúde dependem, geralmente, da sensibilidade da pessoa que os atendem. Porém, é frequente, que o Surdo Profundo tenha de recorrer ao uso da escrita para ser percebido e para perceber.
Já, o Surdo Parcial, como normalmente consegue oralizar, não sente a necessidade de ser acompanhado. O maior entrave que pode ocorrer nesta situação é algum desconhecimento de vocabulário. Isto é, se o Surdo não conhecer ou não perceber uma palavra, o profissional de saúde terá muita dificuldade em se explicar, mesmo recorrendo à escrita, como o Surdo não conhece a palavra, não o vai esclarecer.
Tal como Marta Amaral, Surda Parcial, afirma, apesar do Surdo Parcial ser capaz de oralizar, é importante, que este, bem como o Surdo Profundo, avise, antes da consulta, de que se é Surdo, assim os Secretariados e Profissionais de Saúde irão poder chamá-los sem ser através do altifalante.
A opinião é geral no que toca às dificuldades sentidas pelas pessoas que estão no atendimento. Os Surdos concordam que os ouvintes só percebem os seus problemas recorrendo à mímica e aos gestos deíticos, ou seja, apontar para o que lhes dói.
Normalmente, quem facilita a comunicação são os pais, que já conhecem os filhos e explicam aos médicos o que eles têm. Mas mal entra um Surdo num centro de saúde ou num hospital, “os médicos ficam um pouco assustados”, confirma José Luís, pois “têm receio de não conseguir ajudar e falhar na resolução do problema”, sustenta Marta Amaral. “A escrita é sempre uma constante”, concluem.
Para um melhor serviço médico dirigido aos Surdos, o ideal seria a existência de intérpretes de Língua Gestual Portuguesa nas várias Unidades hospitalares. Contudo se, pelo menos, os profissionais de saúde soubessem Língua Gestual Portuguesa ou tivessem conhecimento de alguns gestos básicos, as dificuldades sentidas pela População Surda, no que diz respeito ao Sistema Nacional de Saúde, não seriam tantas.
Por fim, poderei afirmar que o mundo dos Surdos tem evoluído, porém está longe de ser perfeito. Ainda há muito para mudar. A saúde é um direito de todos e para todos. E, com a evolução que as tecnologias têm sofrido, é possível, que num futuro próximo, o acesso à informação na saúde (e não só) esteja em pé de igualdade para todos.
Andreia Vieira
Aluna Finalista da Licenciatura em Língua Gestual Portuguesa
Escola Superior de Educação de Coimbra - IPC