quarta-feira, 18 de agosto de 2010

A Depressão Pós- Parto (DPP)

Dr.ª Maria de Jesus Correia

Coordenadora do Serviço de Psicologia
da Maternidade Dr. Alfredo da Costa
Uma Depressão Pós-Parto (DPP) é uma depressão que surge na sequência de um parto e resulta da interacção de uma multiplicidade de factores enquadrados numa personalidade emocionalmente frágil e muitas vezes com antecedentes depressivos.
 
Acontece a cerca de 8-10% das mulheres no puerpério.
 
A prática clínica permite-nos perceber que, a maioria das mulheres com diagnóstico de DPP, tiveram, antes da gravidez, outros episódios de depressão reactivos a situações de crise.
 
Vários autores relacionam o aparecimento da DPP com dificuldades emocionais e/ou de relacionamento com o companheiro (pai do bebé), com ausência de projecto de gravidez/maternidade e com experiências de parto e recuperação difíceis.
 
Importa distinguir a DPP do “Blues” Pós-Parto (BPP) . Neste caso, temos uma entidade psico-afectiva relacionada com alterações emocionais normais que decorrem do pós-parto: oscilações de humor (tristeza, vontade inexplicável de chorar, irritabilidade face a situações do quotidiano), alterações dos padrões do sono (sonolência persistente ou insónia) e da alimentação (aumento ou perda de apetite), insegurança relativamente ao cuidar do bebé. Apesar destas queixas, a mulher consegue manter a sua rotina.
 
“Um turbilhão de emoções” 48 horas após o parto: O “Blues” pós-parto
 
O BPP (Blues Pós Parto) acontece a cerca de 60-80% das puérperas; tende a emergir pelo segundo ou terceiro dia do puerpério, habitualmente já em casa após saída da maternidade e pode durar entre uma a três semanas em geral com remissão espontânea; progressivamente, a mulher vai-se apercebendo de um conjunto de mudanças: alterações hormonais, incómodos associados ao puerpério, adaptação às exigências do bebé, e à nova gestão da rotina doméstica. Ser mãe, conduz a uma mudança no estilo de vida da mulher, que deve agora enquadrar e adaptar as suas expectativas associadas ao papel de mãe (muitas vezes idealizadas) com a realidade emergente.
 
Vive-se um turbilhão de emoções, por vezes contraditórias, terreno favorável a um BPP que, em circunstâncias individuais e familiares adequadas, desaparecerá gradualmente.
 
Nesta fase, o apoio e compreensão da família podem fazer toda a diferença. A partilha das tarefas entre a mulher e alguém da sua família, bem como a presença, apoio e confirmação afectiva do companheiro revestem-se da máxima importância.
 
 
Diferença entre BPP e DPP
 
Por vezes, um quadro mais intenso de BPP pode confundir-se com uma DPP e causar alguma preocupação à mulher, ao seu companheiro ou familiares mais próximos.
 
Quando esta questão surge, dever-se-á procurar aconselhamento especializado (psicológico, por exemplo) que ajudará a clarificar a situação, a estabelecer um diagnóstico e a perspectivar a intervenção necessária (psicológica e/ou psiquiátrica se necessário).
 
A procura de ajuda especializada é o ponto de partida para ajudar a superar o sofrimento quando ele se torna marcado e é o fundamental para diagnosticar precocemente uma depressão pós-parto providenciando a correcta intervenção. Sabemos que a iniciativa para este pedido nem sempre é fácil. Por vezes, carrega-se o estigma social da felicidade materna com a incompreensão face ao facto de, a maternidade não ser sempre sinónimo de alegria imediata. É importante ultrapassar esta barreira social e pedir ajuda. Não devemos esquecer que, o principal problema na depressão pós-parto é não ser diagnosticada e tratada atempadamente.
 
 
Sinais de alerta:
 
O sinal de alerta para pedir ajuda deverá ser quando o sofrimento da mulher não só permanece no tempo como também se agrava.
 
     Sinais de alerta que permanecem no tempo e face aos quais deve pedir ajuda:
  • Várias noites sem dormir/ sono permanente
  • Perda de apetite / fome constante 
  • Choro frequente, sem razão aparente
  • Irritabilidade 
  • Manifestações psicossomáticas (por exemplo, dores de cabeça, paragens de digestão)
 
 
Conclusão:

É fundamental que a mulher não receie pedir ajuda profissional de forma a conseguir lidar da melhor forma com esta fase da sua vida.